quarta-feira, 23 de abril de 2008

Nem tudo sao espinhos...

E como a excepção confirma a regra, no Sábado tive uma das maiores demonstrações de gentileza num parque de estacionamento. Tinha acabado de estacionar na Praça do Principe Real, seguindo a indicação do arrumador - que já conheço e é sempre muito solícito - quando desata a chover a rodos. Pensei ficar por ali a ouvir um pouco de música até o sol voltar, mas ao espreitar pelo vidro reparo que ele estava junto à porta a segurar um guarda-chuva para que eu não me molhasse ao sair. Fiquei rendida com tamanha simpatia!

Grande lata!

Quem costuma frequentar o Fonte Nova, ali em Benfica, sabe bem que no parque de estacionamento os arrumadores brotam que nem cogumelos. O mais curioso é que os lugares são tantos e tão fáceis de encontrar que a ajuda se torna completamente dispensável! Ora, eu que sou moradora deste simpático bairro e pouco adepta de grandes superfícies, desloco-me a este centro comercial de dimensões mais simpáticas com bastante frequência. E, claro, assim que estaciono , tento despachar-me para escapar ao "Tem alguma coisa para me ajudar?" do costume. Provavelmente, isto foge ao politicamente correcto, mas que atire a pimeira pedra quem já não fez o mesmo.

Moralismos à parte, ainda esta semana passei por uma situação bastante caricata, que veio validar a minha conduta. Estava eu a sair do carro e um deles abeirou-se a correr - até aí estava traquilamente sentado no passeio a trocar impressões com um colega e a beber uma cerveja - com a frase certeira "Oh, jovem não me dá uma ajuda para comer?". A resposta tantas vezes repetida saiu-me natural: "Dou depois, que agora não tenho." Por acaso, até era verdade e, pelo sim pelo não, tinha uma moeda pronta no regresso. Não me demorei muito e, quando já estava dentro do carro, o jovem bate-me ao vidro - depois de deixar o seu poiso e a cerveja - para reclamar o que lhe era devido pelo árduo serviço que me havia prestado. Entreguei-lhe a moeda e segui. Qual não é o meu espanto, quando o apanho especado a fazer-me sinais e a dizer: "Vinte cêntimos? Isto não dá para nada!"

Se calhar, estava à espera que lhe pagasse uma grade de cerveja para aguentar o trabalho pesado!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Bipolar

Não gosto que me toquem na cabeça ou mexam no cabelo. É uma invasão que me tira do sério.

Adoro mexer no meu cabelo molhado. Entrelaço-o nos dedos. Penteio e depenteio. Sacudo-o e seco-o demoradamente. Gosto de senti-lo junto à nuca, curto e macio.

E perco a cabeça quando me tocas no cabelo de mansinho quando estou distraída.

Afinal, até o toque é relativo...

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Desilusao no Bairro Alto


Já alguém tentou marcar uma mesa para jantar em Lisboa ao Sábado, assim um bocado em cima da hora? Este fim-de-semana calhou-me a mim essa árdua tarefa e foi desesperante. Não fosse a ocasião importante e teria optado por ir ao perder como diz a R., ou seja, tentar a minha sorte sem nada marcado. Quando já estava quase a desistir, consegui fazer reserva na Mercearia da Comida, na Rua da Barroca. Em tempos, tinha espreitado pela porta e parecia-me ser acolhedor o bastante para este jantar tardio. O espaço era engraçado, com uma decoração despretensiosa e ao que parece inspirada numa mercearia portuguesa à antiga. Gostei do ambiente, das caixas de fruta a servir de molduras e ao fim de poucos minutos lá dentro já estava a salivar - como sempre! Metade pelo avançar da hora, metade pelo cheiro do leite creme que tinham servido na mesa ao lado. Devorei o menú com os olhos, enquanto saboreava as azeitonas (óptimas por sinal!) e acabei por decidir-me pelo Bacalhau com Espinafres à Tia não sei das quantas. A sangria com muita hortelã como se quer chegou passado pouco tempo e manteve-nos entretidos durante os dez minutos de espera. - Que rápido! - disse eu. O meu estômago ficou radiante, mas os meus olhos nem por isso. O lombo recheado que também veio para a mesa acompanhava com um pouco de arroz branco e com uma salada muito parecida com aquelas que se compram embaladas. E o meu bacalhau não me despertou a gula que esperava! Mas como a aparência não é tudo, pensei que o sabor estaria à altura das minhas expectativa. À primeira garfada, as minhas ilusões cairam por terra. O bacalhau não sabia a nada e parecia que tinha sido cozido e não tinha levado qualquer tipo de condimento. Depois - pasme-se -, estava coberto por uma espécie de puré instantâneo com água a mais e uns espinafres igualmente sem sabor. No topo, um pouco de queijo e pão ralado para dar um ar de gratinado, que nem os meus olhos conseguiu convencer. Comi, poque tinha fome, mas o deconsolo na minha cara devia ser mais do que evidente. Os meus companheiros de mesa ficaram mais ao menos com a mesma sensação e o que vale é que a sangria nos subiu depressa à cabeça!

Não sou crítica nem nada que se pareça, mas tenho tanto voto na matéria como qualquer outro cliente. E tendo em conta que não estava a jantar em nenhuma tasca e os preços embora não fossem assustadores também não eram assim tão baixos, exigia-se um pouco mais de qualidade. Ah, e por falar em tascas, o Toma Lá, Dá Cá da Bica já me proporcionou experiências gastronómicas bem mais agardáveis e em conta.

Tive pena de não experimentar o leite creme, que dizem (na net) ser delicioso, mas o meu estômago já não tinha mais espaço para desilusões...

Vergonha a portuguesa

Quem trabalha em Queluz de Baixo já se habituou às crateras da estrada e apelida carinhosamente esta povoação de Cabul de Baixo. Pelo menos foi assim que me apresentaram esta terra de ninguém logo no primeiro dia na redacção. Adiante... Há algumas semanas, iniciaram-se os trabalhos para a melhoria da rodovia. Filas de trânsito à parte, era uma excelente notícia para quem tem de fazer o trajecto Lisboa-Queluz de Baixo diariamente. Porém, agora que podemos desfrutar de um tapete de alcatrão a estrear e livre de buracos, temos de nos desviar constantemente das tampas de esgoto demasiado altas! Eu pergunto-me: até quando os responsáveis por estas obras tão bem planeadas vão continuar a gastar disparatadamente o dinheiro dos contribuintes? Será que era muito difícil antever este tipo situações? E de quem é a culpa afinal?

Se alguém souber as resposta, sou toda ouvidos!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Who is Jude Quinn?


Quem diria que a Cate Blanchett daria um Bob Dylan tão sexy?

Não sei se é do ar alucinado ou do tom trocista, mas esta é a fase (ou face) que mais me fascina dele. Deu, sem dúvida, uma bela lição à imprensa moralista da época e aos fãs que reclamavam por coerência. Podia ter escolhido o caminho mais fácil e seguir a carneirada. Preferiu cortar as amarras e seguir um trajecto mais turtuoso. Acusado de vendido, falso, insolente e pretensioso, foi coerente com a sua própria vontade. E será que devemos contas a mais alguém? Quanto a mim, a unidade de espírito é uma anormalidade. Somos seres diversos, que sentem e comunicam de forma diversa, em diversos momentos. O resto? São tretas.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Apetecia-me...

...que me sussurrassem isto ao ouvido.



Fascinação, Elis Regina

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Treze

Na blogosfera, descobri que o sexo tem mais regras que o rugby! Segundo um estudo (científico) publicado no Journal of Sexual Medicine, uma relação sexual (ou a penetração como eles simplisticamente lhe quiseram chamar) que dure mais de 13 minutos é considerada "demasiado longa". Quer isto dizer, meus caros, que essa história que andaram para aí apregoar de que o sexo faz bem à saúde às tantas também não é verdade. É que se uma pessoa se for a guiar pelos valores padronizados a que estes senhores chegaram ainda arranja uma valente dor de cabeça! Ou pior: uma patologia qualquer do foro psicológico ou sexual. Senão, vejamos os números da "normalidade":

1 a 2 minutos = demasiado curto e insatisfatório
3 a 7 minutos = adequado
7 a 13 minutos = desejável
Mais de 13 minutos = demasiado longo

Agora, já sabem: nada de rapidinhas e nem pensem em meter-se em aventuras de sexo tântrico. A ordem é para controlar o prazer e mantê-lo dentro dos limites do aceitável. Tal como diz O Coiso, esta é uma péssima notícia para os atletas sexuais de velocidade, que vão ter de aprender com os mais lentos. E os maratonistas podem esquecer aquele misto de prazer e alívio que sentiam ao cortar a meta ao fim de uma longa jornada. É que tudo o que ultrapasse os 13 minutos é uma perda de tempo!

Acho que vou passar a tomar notas para ver se sou normal...

fonte: www.ocoiso.net

quinta-feira, 10 de abril de 2008

A espera...

Porque será que me identifico com este retrato?

"He's never early, he's always late
First thing you learn is you always gotta wait
I'm waiting for my man."*

E atenção que não sou eu que me faço esperar...

*I'm Waithing For My Man, Velvet Underground

Saudosismo

Ás vezes, dou por mim a trautear


"Too young to hold on and too old to just break free and run."*


As palavras do Jeff têm sabor a passado, a feridas por sarar, a ressaca e a sonhos. Recordam-me os meses em Madrid. Acompanharam-me nas grandes decisões. E, de quando em quando, regressam para me lembrar que só a intensidade com que vivemos justifica a nossa existência.

*Lover, You Shouldn't Come Over, Jeff Buckley, 1994

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O Indie e eu...


...não temos tido uma relação fácil. Ou por outra, não nos temos relacionado de todo. Com muita pena minha, temo-nos desencontrado. É sempre assim: quando ele se prepara para me mostrar as novidades do cinema independente, surgem compromissos inadiáveis que me arrastam para longe dele. Por isso, este ano prometi a mim mesma que não ia perdê-lo de vista! E, claro, o destino tentou afastar-nos de novo... Tudo por causa de uma viagem ao Brasil marcada à três pancadas sem ter em atenção este pormenor. Respirei de alívio quando confirmei que as sessões teriam início na noite de 24 de Abril, o que me deixa com dois dias para desfrutá-lo. Saber-me-à a pouco? Talvez, mas as relações fugazes por vezes são mais intensas e deixam (quase) sempre um sabor especial.

Este ano, o Indie vai dar-nos música! Uma excelente surpresa, sobretudo para mim que vou poder (re)encontrar o Lou Reed no Teatro Maria Matos, às 23h45, do primeiro dia do certame. Se fosse em pessoa era ainda mais interessante, mas já fico contente com o filme de uma série de concertos gravados em 2006. Com um pouco de sorte, consigo também assitir à ante-estreia de My Blueberry Nights, de Wong Kar Way, umas horas antes, no Cinema São Jorge. No dia seguinte, tenho encontro marcado com os Joy Division, ou melhor, com o documentário homónimo assinado por Grant Gee. Apaixonei-me por eles quando me preparava para ver o Control, de Anton Corbijn, e a minha curiosidade acerca dos rapazes de Manchester ainda não está satisfeita. Por ver, vai ficar a adaptação de Terra Sonâmbula para o grande ecrã, entre muitos outros. Como eu invejo a Teresa Prata por realizar um filme a partir de uma obra de um dos meus escritores preferidos, Mia Couto. Resta esperar que cheguem ao circuito comercial!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Transformer



Ontem, dormi com o Lou Reed. Na cabeça e nos ouvidos, entenda-se. Acordei com ele a sussurrar-me e com uma série de imagens do submundo novaiorquino das décadas de 60 e 70 a povoar-me o imaginário. Senti um arrepio na espinha e uma imensa vontade de ter nascido noutro tempo, noutro lugar, noutro corpo. Como ele um dia o desejou

"I wish that I was born a thousand years ago
I wish that I'd sailed the darkened seas
On a great big clipper ship
Going from this land here to that
I put on a sailor's suit and cap"*

Tudo isto por causa do documentário Rock & Roll Heart: Lou Reed**, que me revolveu as entranhas e mexeu com medos antigos. No meio de todo aquele desfile de excentricidade e poesia, destaco as palavras sábias que Warhol lhe dirigiu. Qualquer coisa como

"És demasiado preguiçoso, Lou. Se queres ser poeta tens de trabalhar. Quantas músicas compuseste hoje? O trabalho é a única coisa importante. Sem trabalho, não há criação. Eu sei que podes dar muito mais do que dás."

Acho que o carapuço também me serviu a mim! E, quanto ao Lou Reed, tenho a sensação que não vou resistir à apresentação de Berlin*** no Campo Pequeno para reviver o que nunca vivi. É já a 19 de Julho.

*Heroin, The Velvet Underground and Nico, 1967
**de Timothy Greenfield-Sanders
***1973

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Sonha comigo, por favor

(Para ler ao som de um clássico nas vozes da realeza do jazz.)




Dream a little dream of me, Ella Fitzgerald & Louis Amstrong

Ela mostrava-se fria e distante. Por dentro ardia. Ele olhava-a de soslaio e denunciava-se em cada gesto. Por dentro receava dar um passo em falso. Falavam horas a fio de trivialidades, pequenos nadas, coisas tontas e sem sentido. Mudos contavam segredos que desconheciam. Pelo meio, o silêncio. Umas vezes incómodo, na maioria revelador. Por vezes, tocavam-se sem querer. O corpo estremecia em sinal de alarme e recuavam em seguida como se nada fosse. Ele não sabia o que dizer. Ela não sabia o que sentia. Depois, cada um seguia o seu rumo. Ela voltava para o seu mundo certinho. Ele para a companhia da solidão.

As noites custavam mais. Ela tinha medo do escuro. Ele iluminava-o com o brilho do olhar. Até que um dia ele lhe disse baixinho:

"Será que posso sonhar contigo?"

Ela quis gritar que sim. A voz sumiu-se e não conseguiu dizer nada mais do que

"Boa noite. Dorme bem..."

No escuro do seu quarto, ela adormeceu com um sorriso nos lábios. E sonhou com ele toda a noite.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Moleskine

Ainda bem que hoje levei o meu Moleskine à rua. De outra forma, não poderia registar esta pérola:

"Acredita jovem-cidadão-deste-país-e-do-mundo somos boas pessoas. Somos boas pessoas, pá! É por isso que a gente se encontra e há-de se encontar. É Primavera, pá!"*

É por estas e por outras, que faz tão bem andar na rua. Só é pena não poder fazer como uns e outros e mandar o trabalho para trás das costas para aproveitar o bom tempo. Fiquei-me pelo fim de tarde. E soube-me bem!

*by anónimo-cidadão-deste-país-e-quiçá-do-mundo

O escaravelho ainda mexe


Depois de um mês no Palácio do Sobralinho, a Inestética Companhia Teatral está de malas aviadas. O destino é a capital e o objectivo apresentar um bom espectáculo. A adaptação de A Metamorfose assinada por Rita Leite e Alexandre Lyra Leite sobe ao palco do Teatro da Politécnica de 9 a 13 de Abril, ás 22h30. Vão ver que vale a pena!

Agora, só falta mesmo a peça chegar à minha terra natal: Estarreja, esse grande polo cultural. Até rimou!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Help!


Desapareceu tudo deste blog e não consigo fazer nada!!! Será que alguém me ajuda?! Agora que começava a sentir-me em casa no Vertiginosamente, os meus posts e demais atalhos eclipsaram-se! Ficou apenas a mensagem mais recente e o título do blog, sem que eu perceba como é que isto aconteceu. Estragou-me o dia...

terça-feira, 1 de abril de 2008

O Mundo por um pouco de silencio!

Nunca me questionei em demasia acerca da vida para além deste nosso húmilde planeta. Não porque não seja dada a grandes divagações, mas porque até à data me sinto bem nesta terra rodeada por água. Nem mesmo as especulações acerca da sua condição finita e a febre ambientalista que está tão na moda, me fizeram olhar mais para o espaço, esse imenso desconhecido. Confesso que não resisto ao apelo do céu em noites estreladas ou de lua cheia. Quanto às viagens interplanetárias nunca me despertaram particular interesse... Mas a vida dá tantas voltas que neste momento dava tudo por espaço livre a perder de vista e o barulho do silêncio. Sim, porque a instalação no meu novo posto de trabalho não está a ser nada pacífica. Não convivo bem com a confusão sonora e a desorganização em geral e neste open space a desordem impera! Acabou-se o sossego do meu mega escritório, ultra organizado e traquilo... Já diziam os antigos: "Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe!"

Deixo-vos com o David. As saudades que eu tinha de ouvir isto!



David Bowie, Life On Mars?