quarta-feira, 23 de julho de 2008

Séries de ouro

Hollywood que se ponha a pau!

Imagine que ligava a televisão e as séries americanas tinham desaparecido da programação. Provavelmente, não acharia grande piada até porque as grelhas dos canais nacionais estão cheias de formatos importados de países como a Argentina e o México muito pouco estimulantes. Se é certo que a falta de opções tem dado lugar a uma aposta crescente em grandes sucessos made in USA, a verdade é que a sua inegável qualidade conquistou de vez os espectadores. E, sinceramente, quem é que consegue imaginar a televisão sem House, Anatomia de Grey, Donas de Casa Desesperadas, Prision Break, 24, CSI, Perdidos, Simpsons, Heroes e toda a panóplia de séries extraordinárias com selo norte-americano que têm chegado até nós?
Podíamos dizer que eles têm dinheiro, tecnologia e experiência; que têm um autêntico viveiro de actores; que importam autores dos quatro cantos do mundo. Mas em qualquer um dos casos estaríamos a ser injustos. Os Estados Unidos têm o mérito (ou pelo menos a esperteza) de apostar nos recursos nacionais e aproveitar o que lhes chega de fora. E o resultado são guiões inteligentes e até com um certo grau de experimentalismo - como é o caso da sitcom de culto Seinfield -, uma realização muito técnica próxima do cinema, uma produção exemplar e a formação de actores sólidos, que têm espaço para crescer no pequeno ecrã. É claro que tudo isto só é possível, porque os canais privados de cabo começaram a fabricar os seus próprios produtos, mais livres e arrojados do que se fazia até então. O que abriu terreno para séries ousadas como O Sexo e a Cidade, polémicas como Os Sopranos ou 24 e hilariantes como Calma, Larry. Daí para o renascimento televisivo norte-americano foram apenas alguns passos acertados.
A fórmula do sucesso não é tão misteriosa nem tão inalcançável quanto se possa pensar. Aliás, a simplicidade e originalidade são o segredo de todos estes produtos. Senão vejamos o exemplo de House, Scrubs e Anatomia de Grey. Quando ER: Serviço de Urgência parecia ter esgotado todas as formas possíveis de abordar o quotidiano de um hospital, surgem três perspectivas completamente distintas. No primeiro, temos um médico pouco convencional e muito sarcástico que encara os pacientes como um mero desafio; no segundo, acompanhamos as aventuras e desventuras de um interno que parece viver noutra dimensão; e, no terceiro, as emoções da equipa de médicos roubam o protagonismo aos casos clínicos. Um exemplo entre muitos que comprova que nenhum tema está realmente esgotado. Outro caso interessante é o de Perdidos, que parte de um conceito extremamente simples – um grupo de pessoas tenta sobreviver numa ilha depois de um desastre de avião – e conta já com três temporadas.
Quanto a mim, parece-me que o maior salto qualitativo das séries americanas deu-se ao nível da escrita. Os argumentos são cada vez mais sólidos e coerentes, as personagem fogem dos estereótipos e ganham uma dimensão humana que cria empatia no espectador e até para o non sense parece haver lugar.
Depois de décadas menos felizes, há quem diga que actualmente se encontra mais talento em estações televisivas como a HBO ou a ABC do que em todos os estúdios de Hollywood. O que nos faz recuar até a década de 50, quando a televisão levou o cinema até casa dos americanos e havia uma espécie de euforia criativa nestes dois mundos. Esperemos só que a qualidade se mantenha...e seja contagiosa!

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