quinta-feira, 5 de junho de 2008

Abaixo a injustiça!


Cresce em mim uma revolta desmedida. A pouco e pouco, perco o amor por este pedaço de chão a que chamo berço. Ao mesmo tempo, perco o amor-próprio, a motivação, o brio. De tempos a tempos, invade-me um desassossego inexplicável. Segue-se o conformismo e a apatia. E, no fim, regresso exausta à raiva. Raiva do estado do Estado, do estado das coisas e, sobretudo, do estado das pessoas!

Tenho pena de ter nascido nesta geração desprovida de ideais, voz política e força anímica. A geração mileurista, de Bolonha, da Europa aberta, das viagens low cost, do emprego precário, das qualificações desvalorizadas. Invejo os meus pais, não pelas oportunidades que não tiveram, mas pelo fulgor contestatário da sua juventude. Nós crescemos rodeados de facilidades, descobrimos as maravilhas das novas tecnologias ao mesmo tempo que as letras e os números, aprendemos que podemos ter tudo aquilo que queremos. Ensinaram-nos que tinhamos de estudar muito para ser alguém na vida e disseram-nos que o ensino superior nos abriria portas. Pelo caminho, habituámo-nos a ouvir falar de cunhas e da corrupção em geral ao ponto de acharmos tudo "normal". Depois, veio a crise económica do país, o primeiro emprego, o desemprego, os recibos verdes e os lamentos nos cafés de Domingo. Sobraram-nos algumas facilidades, a eterna dependência dos nossos queridos progenitores - fartos de trabalhar e a merecer algum descanso -, mas é inevitável que nos falte o chão.

De quem é a culpa? Dos nossos pais que nos iludiram com promessas de uma vida que só os filhos de alguns podem ter? Não. Também eles se acomodaram às facilidades dos tempos e foram apanhados desprevenidos. Será do Estado? Não só. E terão os nosso caros governantes contas a prestar? Também. E nós, população em geral, será que podemos lavar as mãos? Não me parece.

Não sou socióloga, nem muito menos especialista no que quer que seja. Sou uma mera cidadã inconformada com o meu (nosso) comodismo, farta dos aumentos dos impostos, do salário inglório, do desemprego em cada esquina e da falta de consciência de comunidade. Sonho com uma revolução profunda! Mas será que nos arriscariamos a tanto?

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