sexta-feira, 25 de julho de 2008

A Mudança

Parece que vou mudar (outra vez) de casa! Desde que aterrei de pára-quedas em Lisboa em 2001, já vivi em cinco casas. A primeira ficava na Quinta da Luz perto do Colombo. Eu vinha cheia de sonhos e com vontade de conquistar este mundo e o outro e depressa me apaixonei pela cidade. Dividia o quarto com a M. e na casa viviam também a mosca morta e o monstro das bolachas. A convivência não era pacífica e a coisa azedou a sério ao fim de três meses, quando descobrimos que afinal a renda ia passar para o dobro e o monstro das bolachas começou a mostrar as suas garras. Bizarro, no mínimo! Claro que em Janeiro quartos de estudante acessíveis era coisa que não abundava e não tive outro remédio senão ir para o Barreiro para casa dos meus tios, mais propriamente para um anexo amplo no terceiro andar só para mim e muito confortável. Esta segunda experiência foi muito mais agradável, mas eu estava apaixonada por Lisboa e havia um rio a separar-nos. Lá tive de aguentar a travessia de barco durante um semestre, enquanto a minha tia me estragava com mimos e a melhor comida do mundo. No segundo ano, mudei-me com a E. para a Av. 5 de Outubro. Aquilo é que era qualidade de vida: demorava cinco minutos a chegar à faculdade se apanhasse todos os sinais de peões vermelhos, um acidente, um autocarro a largar passageiros e uma velhinha a precisar de ajuda para atravessar a estrada! Tinha tudo a um passo de casa, desde o Monumental até às lojas do Saldanha. E depois era tão fácil combinar saídas com a malta da faculdade! Ia tudo ter a minha casa. Na Primavera, as árvores enchiam-se de flores, ao fim-de-semana, a rua ficava serena e à noite andava a pé sózinha sem medo. Eu e a E. dávamo-nos lindamente e até tive direito a uma festa de aniversário surpresa naquela casa. Um ano e meio depois, troquei a 5 de Outubro pela Calle Borja, em Madrid. Em vez de um minúsculo T1 transformado em T3, fui para um T5 duplex, que também tinha sido transformado para albergar seis estudantes e a proprietária. Ali vivi com duas lisboetas, uma brasileira, uma mexicana cleptomaníaca, duas francesas de origem árabe, que nos detestavam a todas e uma espanhola, a senhoria e matriarca Pilar. Era uma casa fabulosa com um terraço espaçoso, onde faziamos grandes jantaradas de Erasmus, uma sala enorme com uma panóplia de livros e dvds, onde devorávamos as séries da Factoria de Ficción e dezenas de bolachas de uma só vez, e um ambiente único. Esta seria a minha quarta casa, mas como foi fora de Lisboa não conta. De volta a Portugal, fui procurar casa com a R., porque a E. continuava na 5 de Outubro e já não havia lá espaço para mim. Fui parar novamente a Benfica, a um T2 transformado à força em T3 e não foi fácil habituar-me outra vez a um espaço tão exíguo e ainda por cima sem sala. Era o último ano da faculdade e nós queríamos aproveitá-lo a valer. Naquele número 68, riu-se muito, chorou-se muito e mudou-se muito. Crescemos, começámos a trabalhar e eu voltei a apaixonar-me e a mudar de casa. A R. foi viver com a N. e eu fui para um T2 a sério no mesmo bairro. Lá viviam duas amigas que dividiam um dos quartos, passavam a maior parte do tempo na terrinha e estavam prestes a deixar a capital. Aos poucos, fui transformando a casa à minha imagem e semelhança e o D. também se foi apoderando um pouco do espaço. Mas como em todas as histórias não há bela sem senão, o senhorio é uma personagem difícil de dobrar e ainda mais difícil de engolir. Depois de muitas divergências, cheguei à conclusão que é hora de sair. E, desta vez, além de boa, tem de ser MINHA!

1 comentário:

il _messaggero disse...

Acrescento a obrigatoriedade de ter um espaço ao ar livre com braseiro para possíveis churrascos/espetadas com a malta...ah! e sportv para albergar amigos apreciadores de marisco (leia-se tremoço) e cervejolas (eheh)

Bom blog. Tem "cachet" (palavra tão empregue por promotores imobiliários pelos lados da Lapa) suficiente para para almejar estar no bonito e simpático "antro" chamado Desbobina.

Beijos
A. (respeitando o texto)