segunda-feira, 30 de junho de 2008

O princípio do fim

A separação aproxima-se. Vertiginosamente. Se há retorno, não sabem. Nem querem. Nem vale a pena fazer perguntas sobre o futuro ou criar expectativas acerca de uma relação que sabem efémera e inviável. E aqui reside a sua beleza e a intensidade com que a vivem. São pássaros livres, duas almas sem amarras, sem vontade de ancorar num só porto. Talvez mais tarde. Talvez nunca mais.
Ela tem um porto de abrigo ao qual regressa depois de cada tempestade, que a acolhe e conforta. Alguém que a aceita como é. Completam-se: ela leva-lhe as histórias do seu mundo no olhar; ele oferece-lhe a paz e o equilíbrio que mais ninguém lhe consegue dar. Por alguns instantes apenas. O outro, único e irrepetível, vagueia entre a vontade de criar laços e a necessidade visceral de partir. Era inevitável: não conseguiram resistir-se. Entre eles, a música, a noite, o rio, a poesia… e a paixão. Nada mais. Ele partirá não tarda nada e o destino mantém-se desconhecido. Eventualmente, também ela terá a coragem de partir um dia. Ao seu encontro, quem sabe?

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Emma Goldman

Há um século atrás, esta anarquista e feminista de origem lituana disse: "If voting changed anything, they'd make it illegal". Começo a acreditar que ela tinha toda a razão.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Há dias assim...

A menina do post anterior juntou-se aos Five O'Clock Heroes e deu voz a uma mente conturbada. Como a minha por estes dias. A dada altura na música Who, Agyness parece roubar-me as palavras da boca:

"I wish I could control all my judgments
Understand every move
Take of my mind all of this voices
Tell me what should I do"

Nobody stops her!

Ela é assim... Irreverente, confiante, destemida. Desconcertante, contoversa, independente. Ela é uma maria-rapaz feminina e senhora de si. Dita as regras do jogo e joga com prazer e muito estilo. É uma musa e ele diverte-se com ela. Ela é Agyness Deyn, ele Jean Paul Gualtier. O resultado desta mistura explosiva chama-se Ma Dame e está à vista de todos.

terça-feira, 17 de junho de 2008

A apologia do non-sense



Parece que alguém na redacção ouviu as minhas preces e deixou um livro na minha secretária. Eu não me lembro de ter pedido A Filosofia Segundo Monty Python, mas agradece-se. Depois digo de minha justiça!

Quero!



Será que alguém se importa de traduzir este livro e mandá-lo para cá, por favor? Já me contentava com a versão original, vá. Alguém sabe onde posso encontrá-la? O Amazon não conta...

Dia Quatro ou Apostas ganhas

Está um dia glorioso! Talvez seja da noite bem dormida, mas o que é certo é hoje tudo me parece mais nítido, colorido, brilhante. Saímos do quarto ás 11h00, com o sono em dia e esfomeados. Corremos para o Albert mais próximo - o supermercado cá da zona - e comprámos tudo o que nos encheu o olho. Era altura de um pequeno-almoço reforçado no Vondelpark com direito a uns muffins gigantes bem fresquinhos que encontrámos numa das padarias de rua mais requisitadas. O cenário perfeito: relva, um lago, patos, árvores e comida apetecível. À nossa volta, uma mãe babada brincava com as suas filhas louríssimas, um pai de fato corria atrás do filho endiabrado (e louríssimo), um casal passeava dois cães de água enormes e brincalhões e uma rapariga (louríssima) preparava um mega-piquenique com vinho e bolos incluídos. E nós deliciámo-nos com o melhor pequeno-almoço de sempre ao som dos patos, dos risos das crianças e dos nossos risos. Este ambiente bucólico no meio da cidade faz-me lembrar as jantaradas de erasmus nos parques de Madrid de que sinto tanta falta. Já tentei importar esse conceito para Lisboa, mas não funciona. Não estamos habituados a sentar-nos na relva e a desfrutar de uma pausa a cem por cento. Nós, mediterrâneos por excelência, andamos tão acelerados que nos esquecemos dos prazeres simples. É verdade que a cidade das sete colinas não é o sítio ideal para pedalar, por exemplo, mas temos tantos espaços verdes votados ao abandono e tantos outros mal afamados que é uma pena. Também não temos o hábito tão saudável dos madrilenos e catalãos de encher as esplanadas depois do trabalho e preferimos fechar-nos a sete chaves em casa com medo sabe-se lá do quê. Se eu já passo a vida a tentar contrariar estes costumes, agora que vejo como se vive bem em Amesterdão ainda tenho mais vontade de remar contra a maré. O mais impressionante é que as casas têm as cortinas abertas durante todo o dia e quem passa na rua consegue ver o interior sem que ninguém pareça incomodado com isso. Há um respeito natural pelos outros que dispensa estas barreiras. E depois há as bicicletas, os mercados de rua, os sofás à porta de casa onde se sentam a ler um livro ou a conversar com amigos. É surpreendente como as pessoas parecem descontraídas e confiantes. Ontem, vi uma senhora muito bem arranjada nos seus cinquenta, sessenta, maquilhada e de saltos altos a pedalar e a falar ao telemóvel! Já para não falar naquelas que carregam os filhos, as compras, a mala, as flores à frente ou atrás da bicicleta ou nos rapazes que levam a namorada ao colo e continuam a pedalar sem dificuldade. Acho que me habituava depressa a este estilo de vida urbano em harmonia com a natureza. Haverá algo mais sábio do que equilibrar saúde, ecologia, bem-estar, trabalho e lazer na mesma balança?
Deixámos o Vondelpark e fomos para a Museumplein. O Rijksmuseum tem uma parte fechada ao público e só o vamos visitar se sobrar tempo e realmente nos apetecer. Nas redondezas, há ainda o Museu dos Diamantes, cujas visitas são de graça, e o Museu Van Gogh por onde vamos começar. Afinal, o impressionismo é a minha corrente artística preferida e nunca tive oportunidade de ver de perto a obra de nenhum dos seus mestres! Os impressionistas foram os primeiros a captar a essência do momento irrepetível, a força da luz, o movimento fugaz. Eram apaixonados natos, loucos, visionários. E Van Gogh foi (quase) um autodidacta, que teve a felicidade de viver em Paris no momento certo e conhecer as pessoas certas. O talento revelou-se com a perseverança e é pena que a consagração tenha tardado tanto. No fim, não resistimos e fomos à loja do museu. Comprei alguns postais e uma réplica de um quadro da fase oriental de Van Gogh.
Cá fora, o sol continuava intenso e eu queria procurar aquelas esplanadas que vi ontem de passagem. Fomos sem pressa e quando demos conta já estávamos em Waterlooplein. Da primeira vez que ali passámos não nos apercebemos que tínhamos o rio Amstel a nossos pés! A um passo do famoso mercado desta praça, fica a sala de ópera Stopera, o Museu Histórico dos Judeus e a Sinagoga Portuguesa. E muito, muito perto do local onde tirámos umas belas fotos ao rio fica o bar/esplanada mais giro de toda a cidade: De Jaren. No terraço com vista para o rio, desfrutámos de um fim de tarde delicioso, enquanto saboreávamos uma cerveja. O melhor é que este espaço tem preços muito simpáticos para a média da cidade e petiscos de fazer crescer água na boca.
O sol estava cada vez mais baixo e era o momento certo para visitar o Red Light District. Tinha algum receio, porque o D. não consegue largar a câmera e a zona não tem a melhor das famas. À medida que o sol se escondia por trás dos edifícios, as luzes vermelhas tornavam-se mais convidativas e as ruas que ladeavam as montras mais vistosas enchiam-se de homens. Nós caminhamos devagar, mas ficámos um pouco desapontados. Imaginámos um cenário glamouroso, em que as meninas esculturais tentavam seduzir os transeuntes. Em vez disso, deparámo-nos com umas raparigas muito pouco predispostas para jogos de sedução, muitas vezes a falar ao telemóvel e em poses nada sexy! Concordo com a lei holandesa, que permite a prostituição dentro de portas e proíbe a prostituição na rua. Quer se goste, quer não, ela existe em todos os cantos e mais vale regulamentar, do que assumir uma postura hipócrita e condenar. Todas as partes saem beneficiadas: o Estado ganha um novo imposto, elas ganham em segurança a todos os níveis e os clientes também. Em troca, as profissionais do sexo estão obrigadas a exames periódicos em nome da saúde pública e os donos destes espaços também enchem os bolsos. E o mesmo se passa com as coffeshops e o comércio de drogas leves sujeito a impostos. 100% de consciência, 0% de hipocrisia! Ali, encontrámos a estrada (beco) mais estreita de que há memória e o Bulldog original, criado em 1975.
Aproveitámos os últimos raios de sol, para procurar um restaurante que servisse algo típico e parece que acertámos! Nas últimas noites, temos andado ás aranhas e com a ideia fixa de poupar dinheiro. Como estamos sempre esfomeados e em cima da hora de fecho, o nosso cérebro perde o senso e fazemos sempre escolhas disparatadas. O De Beiaard é uma cervejaria com petiscos holandeses e cervejas para todos os gostos. Só para contrariar, pedimos vinho tinto porque achámos que caía melhor com a tábua de queijos. Espero que os deuses da cerveja não se chateiem e não nos preguem nenhuma partida. Vamos, finalmente, provar as famosas Bitterballen, uma mistura de almôndegas com croquetes. E, com sorte, ainda há tempo para uma tarte de maçã. Logo, conto o resultado destas iguarias!

Dia Três ou Os mortos-vivos

A luta com o intruso na noite passada tirou-nos o sono e não conseguimos sequer recuperar da maratona turística do dia. E, quando eu não durmo ou não como o suficiente, fico tão irritada que ninguém me atura. Mas não há mau humor que resista ao encanto desta cidade! Ao fim de alguns minutos junto aos canais, o stress deu lugar a um estado de contemplação pura. Almoçámos demoradamente num banco de jardim a ver os barcos a passar e partimos à descoberta da zona comercial. No cruzamento da Heiligeweg com a Kalverstraat encontrámos um dos monumentos preferidos do D.: a Diesel Store. Entrámos como em todas as cidades por onde temos passado e comecei a sentir-me observada. Subi para o piso dois para ver a colecção feminina e, quando estou a descer para o rés-do-chão, vejo-o a conversar animadamente com um dos empregados. Qual não é o meu espanto quando os ouço a falar português com sotaque madeirense! Tinham andado no mesmo colégio em miúdos e já não se viam há seis ou sete anos. O novo (velho) amigo veio para a Holanda fazer carreira no futebol, mas as barreiras falaram mais alto e o sonho ficou pelo caminho. Depois apaixonou-se por Amesterdão e por aqui ficou. Chama-se Diego, é natural do Curaçao, foi parar à Madeira por causa da bola ainda criança e diz que quer voltar para lá... um dia. Saímos da loja com a promessa de uma grande festa na noite seguinte e continuámos o nosso passeio.
Precisávamos urgentemente de algo que espantasse o sono e decidimos entrar num daqueles barcos que fazem uma visita guiada pelos canais. Começámos perto da Damrat e corremos toda a zona antiga da cidade, Red Light incluído. Passámos por esplanadas apetecíveis que ainda não tínhamos visto, por uma faculdade e por uma série de outras coisas que eu teria visto se não estivesse de olhos fechados! O sol estava tão forte e o barco era tão abafado, que acabei por me deixar embalar. O D. ia falando comigo, apontava para ali e para acolá e eu acenava com a cabeça sem dizer uma palavra. O que vale é que ele tirou dezenas de fotografias e depois vou poder ver com calma o que perdi... De regresso à Damrat, estávamos ainda mais moles do que no início, mas cedemos à tentação de nos alaparmos numa esplanada. Em vez disso, continuámos a caminhar em direcção a Jordan, para ver a casa onde Anne Frank se escreveu o diário da sua clausura. Pelo meio, ainda provámos as famosas batatas fritas de rua e entrámos no Magna Plaza, uma antiga central de correios que se transformou num centro comercial imponente.
O dia acabou como começou: com uma grande dor de cabeça. Fomos para o nosso novo hotel de malas aviadas - a minha em mísero estado porque tive de forçar o cadeado que teimava em não abrir - e encontrámos um quarto mínimo e por limpar. Lá tivemos que adiar uma vez mais o descanso e aguardar que a recepcionista desse conta do recado. Nem acredito, que estou deitada! O quarto é tão pequeno que temos de economizar espaço e coordenar-nos para nos conseguirmos mexer. esta vez, não há mesmo lugar para intrusos! Amanhã, logo veremos....

Noite Dois ou O quarto assombrado

Definitivamente, não estamos com sorte! Como disse na primeira noite, o Bema Hotel ficou muito aquém das nossas expectativas, mas estava tão cansada que cai na cama como uma pedra. Confesso que dormi muito bem e acordei sem dificuldade com o cheiro a torradas e chá. O pequeno-almoço foi servido no quarto, enquanto eu esfregava os olhos no edredão. Comemos com prazer a admirar a vista: o Concertgebouw brilhava à luz do dia, o jardim em frente ao Rijksmuseum enchia-se de turistas e os locais passeavam-se de bicicleta cheios de estilo. Como não tínhamos jantado a sério, na noite anterior, não trocámos mais de duas frases entre torradas com manteiga e doce, ovos, golos sôfregos de chá e murmúrios de satisfação.
Seguiu-se uma visita exaustiva à cidade, sob o lema "se nos perdermos, tanto melhor." Depois de muitos km de chão, regressámos ao ponto de partida. Não queríamos mais do que uma cama e um travesseiro macio para esticar o corpo. Porém, não estávamos sozinhos! Mal apagámos a luz, começámos a ouvir um ruído esquisito entre o arranhar e o amarrotar. A princípio pensámos que era no quarto ao lado. Fizemos uma vistoria à procura da fonte - possivelmente um insecto - e voltámos a apagar a luz convencidos de que não era nada. O barulho recomeçou em seguida e o D., ao acender o candeeiro, gritou: "O filho da mãe está no teu saco!" Nem podia acreditar: tínhamos um (ou seriam mais?) rato no quarto. Agora, batia tudo certo! O caixote de plástico com o letreiro "Não deixe comida fora deste recipiente.", a pressa do empregado em recolher o tabuleiro de manhã, a simpatia desmedida da recepcionista... Já nem me lembrava que tinha um resto de pão no saco e o Bema Mouse não perdeu tempo e fez o gosto ao dente enquanto tentávamos dormir! Resolvemos atirar o saco pela janela para acabarmos com a praga de uma vez por todas. E, antes de nos entregarmos a descanso, fizemos uma última vistoria que nos deu cabo dos nervos: o nosso companheiro roedor (ou um dos seus amigos) escondera-se atrás das malas. O D. passou-se e eu fiquei meia histérica, meia inerte. Não sabia sequer que tinha medo ou nojo ou lá o que era aquilo de ratos. Ele convenceu-me a deixar o quarto e encarregou-se de tirar de lá tudo o que nos pertencia não fosse o Bema Mouse fazer das suas. A mim cabia-me a tarefa de acordar o recepcionista e contar o sucedido. O rapaz ficou mais aturdido por o ter despertado do que surpreendido com a história. Da conversa surreal que tivemos nessa noite só me consigo lembrar deste trecho: "Oh, God! Amsterdam is full of mice. I had some in my old house and I lived well there. Are you sure you want another room?"
Deixámos o hotel na manhã seguinte com os trolleys pesados na mão e o dinheiro nos bolsos. Esta curta estadia não deixou saudades e, como recuperámos todo o dinheiro, fomos em busca de melhor. Decidimos ficar no bairro dos museus e começámos a bater à porta. Tudo cheio e demasiado caro. Ás11h30, deram-nos sinal verde no Quentin Hotel e estávamos tão fartos de arrastar a tralha que nem pensámos duas vezes.

Noite Dois ou Um italiano nos Paises Baixos

Há tantos italianos por metro quadrado em Amesterdão, que a cabámos por esbarrar num deles. A nossa primeira opção era o Cobra, junto ao Rijksmuseum, que, segundo o guia, é "uma excelente mostra da cozinha holandesa." Batemos com o nariz na porta, porque havia lá uma festa e fomos pregar para outra freguesia. De volta à Leidseplein a razar as 22h00, o Ristorante Pepino conquistou-nos pela variedade e pelos preços acessíveis. O D. pediu Tortellini Gratinado e eu fiquei-me pelo Tagliatelle À La Putanesca. Já comi melhor, mas fiquei bastante satisfeita e sem espaço para as panquecas com que sonhei toda a tarde!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Noite Um ou O Primeiro Repasto

O Manchester ganhou nas grandes penalidades e o meu estômago continuava a dar horas. O Cristiano Ronaldo também devia estar com dores de barriga a julgar pelas lágrimas que derramou por ter falhado um penálti. O bar onde vimos o jogo já tinha a cozinha fechada às 22h00. Os restaurantes onde batemos à porta quando a partida terminou também. Indicaram-nos o De Knijp* e nós não nos fizémos rogados. Comemos duas entradas deliciosas de tamanho mínimo. Não porque a fome fosse pouca, mas a carteira pedia moderação. Eu escolhi lasanha de peixe e o D. nacos de borrego, que até hoje estamos para saber de que parte do bicho eram. Ele está maravilhado com a cerveja - desta vez, Amstel - e eu esperei até ao fim da refeição pela minha bebida. No fim, pagámos €10 cada, porque o couvert não se pagava e a minha bebida nunca chegou. E assim, começa a nossa aventura na terra das bicicletas, dos canais e (porque não?) dos rapazes giros!

* Van Baerlestraat, 134
www. deknijp.nl

Noite Um ou A Primeira Desilusao

Aterrámos em solo holandês à hora exacta. A fama do aeroporto não o desfavorece em nada. Schiphol é tão imponente e movimentado quanto dizem, mas é fácil andar por lá sem perder o norte. As malas não demoraram mais de vinte minutos e num instante estávamos na plataforma para apanhar o combóio. Vinte minutos depois, chegámos ao centro da capital, mais concretamente à caótica Centraal Station. Os avisos pendurados por toda a parte exigem precaução: "Beware of the pickpockets!" As bicicletas espalhadas por todos os cantos, marca inconfundível de um povo que sabe viver, mostram-nos que estamos no sítio certo. E ali vai o nosso eléctrico. "Wait, wait, please. Do you stop in Museumplein?" À primeira vista, a cidade está toda em obras... O eléctrico faz um percurso sinuoso e, por enquanto, só vejo buracos e mais buracos, gruas e cimento. "Ok. É aqui."

Ah, agora sim. O Concertgebouw é belíssimo! O edifício, idealizado por Van Gendt, abriu as portas em 1888 e é considerada uma das melhores salas de espectáculos do mundo*. O interior á grandioso e o cartaz digno de respeito. Pena é não termos chegado a tempo dos famosos concertos gratuitos, às quartas ao almoço!

O Bema é já do outro lado da rua e a vizinhança parece tranquila e agradável. Já refeitos da subida das íngremes escadas, reparámos que a realidade era bem mais gasta e deslavada do que as fotografias publicadas no site do hotel. Na recepção, fomos muito bem tratados pela Nela, uma senhora com maquilhagem à drag queen muito simpática, que recebeu o pagamento adiantado de cinco noites e nos encaminhou ao quarto número 7. A desilusão devia estar estampada no meu rosto, porque mal entrámos ela perguntou-nos dezenas de vezes se não tínhamos gostado! Respirei de alívio quando ela nos deixou a sós e pude por fim dizer de minha justiça. Como já devem ter reparado, sou bastante crítica e exigente, mas será que se podia pedir mais de um quarto duplo por €70 com pequeno-almoço? Provavelmente, não e agora não havia nada a fazer. Afinal, íamos passar tanto tempo fora, que este era o menor dos nossos problemas. Soltei uma gargalhada e deixei o quarto atrás das costas. O Chelsea e o Manchester já estão a jogar e ainda temos de encontrar um bar com televisão e algo para comer...

*A fadista portuguesa Ana Moura actuou lá ontem, dia de Portugal

Dia Um - 21.05.08

Acordei ansiosa e com o corpo dorido. Acontecia-me o mesmo antes de ir para o Algarve de férias com os meus pais quando era pequena. Ficava impaciente, mal conseguia dormir e chegava a doer-me o estômago! Era um misto de medo do desconhecido, curiosidade e pressa de partir à descoberta. Já sabia que me esperavam várias horas de estrada - 500 km de distância aos cinco anos parece-nos o outro lado do mundo - e mal podia esperar para pôr o pé na areia torrida. Aguentava-me bem desperta durante todo o caminho e era a primeira a correr para a piscina mal chegava ao destino. Naquelas semanas longas, água, areia, gelados e noites bem passadas com os meus pais, tios e primos eram o suficiente para me sentir a criança mais feliz do planeta. Bons tempos!

Hoje, senti-me novamente menina. Dormi pouco, tive um sono agitado e acordei cheia de pressa. Nada de novo, porque eu estou sempre com pressa para ir a algum lado! Arranjei-me num ápice e corri para a internet para ultimar os detalhes da nossa estadia. Ainda não sabemos bem quantos dias vamos ficar em Amesterdão. O tempo logo o dirá. Agora o importante é saber onde fica exactamente o Hotel, porque vamos chegar à tardinha e o D. quer ver a final da Liga dos Campeões. E, como a mim os grandes desafios também me fascinam, faço-lhe companhia com muito gosto.

O Bema Hotel fica no número 19 da Concertgebouwplein. Mesmo em frente à principal sala de espectáculos de música clássica da cidade e a poucos metros dos dois museus mais visitados, o Van Gogh e o Rijksmuseum. Óptimo! Basta apanhar o combóio do aeroporto de Schipohl para a Central Station e, depois, o tram 16 deixa-nos quase à porta. Bem, tenho de correr para apanhar um táxi. O D. atrasou-se (um pouco) como sempre e não quero chegar em cima da hora. Holanda, aqui vou eu!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Dia Zero - 20.05.08


As viagens começam muito antes da partida. Há reservas para fazer, roteiros para planear e e_mails para avisar os amigos que nos esperam do outro lado desta aventura. Como sempre, deixámos tudo para a última e a nossa vontade era não marcar absolutamente nada. Acabámos por tomar a decisão mais ponderada de reservar a estadia em Amesterdão num hotel em conta, onde não fosse precisa caução e pudéssemos mudar de ideias sem ter de pagar nada por isso. Depois de várias pesquisas, conseguimos o local perfeito. Correcção: o local adequado ás nossas intenções, compatível com a carteira e, sobretudo, DISPONÍVEL! Para ser sincera, não estava muito entusiasmada, mas não encontrámos mais nada livre!

Com este problema resolvido, era altura de confirmar com o meu amigo Julien se podíamos ficar em casa dele em Bruxelas daí a cinco dias. Assim, matava dois coelhos de uma cajadada só: retribuía, finalmente, a visita dele e poupávamos uns euros preciosos para descobrirmos mais coisas. Com um bocado de sorte, ele até nos mostrava a capital belga como os turistas não a conhecem.

E, depois, as malas. Coisa simples para os mais práticos, mas um verdadeiro dilema para mulheres como eu que conseguem debater-se durante horas com questões como "Levo botas ou não?", "Será que vale a pena levar sandálias?", "Três casacos chegam?", "E se não me apetecer vestir nada disto?". Ainda consultei as previsões do tempo na net, mas continuava indecisa sobre o que levar. Como sempre. Com a mala fechada, levantava-se outro problema: o peso. Respirei de alívio quando a balança marcou 11 quilos e tentei convencer-me que era um peso aceitável para arrastar durante oito dias!!!!

Escolhi um livro de contos do Mia Couto e a "Crónica de uma morte anunciada" do Gabriel Garcia Marques - oferecido pela L. e pelo P. no meu aniversário -, para me acompanharem e pus na mochila o City Notebook de Amsterdam da MOLESKINE - outro belo presente de aniversário. Com a mochila ás costas e o trolley na mão estava pronta para arrancar!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Abaixo a injustiça!


Cresce em mim uma revolta desmedida. A pouco e pouco, perco o amor por este pedaço de chão a que chamo berço. Ao mesmo tempo, perco o amor-próprio, a motivação, o brio. De tempos a tempos, invade-me um desassossego inexplicável. Segue-se o conformismo e a apatia. E, no fim, regresso exausta à raiva. Raiva do estado do Estado, do estado das coisas e, sobretudo, do estado das pessoas!

Tenho pena de ter nascido nesta geração desprovida de ideais, voz política e força anímica. A geração mileurista, de Bolonha, da Europa aberta, das viagens low cost, do emprego precário, das qualificações desvalorizadas. Invejo os meus pais, não pelas oportunidades que não tiveram, mas pelo fulgor contestatário da sua juventude. Nós crescemos rodeados de facilidades, descobrimos as maravilhas das novas tecnologias ao mesmo tempo que as letras e os números, aprendemos que podemos ter tudo aquilo que queremos. Ensinaram-nos que tinhamos de estudar muito para ser alguém na vida e disseram-nos que o ensino superior nos abriria portas. Pelo caminho, habituámo-nos a ouvir falar de cunhas e da corrupção em geral ao ponto de acharmos tudo "normal". Depois, veio a crise económica do país, o primeiro emprego, o desemprego, os recibos verdes e os lamentos nos cafés de Domingo. Sobraram-nos algumas facilidades, a eterna dependência dos nossos queridos progenitores - fartos de trabalhar e a merecer algum descanso -, mas é inevitável que nos falte o chão.

De quem é a culpa? Dos nossos pais que nos iludiram com promessas de uma vida que só os filhos de alguns podem ter? Não. Também eles se acomodaram às facilidades dos tempos e foram apanhados desprevenidos. Será do Estado? Não só. E terão os nosso caros governantes contas a prestar? Também. E nós, população em geral, será que podemos lavar as mãos? Não me parece.

Não sou socióloga, nem muito menos especialista no que quer que seja. Sou uma mera cidadã inconformada com o meu (nosso) comodismo, farta dos aumentos dos impostos, do salário inglório, do desemprego em cada esquina e da falta de consciência de comunidade. Sonho com uma revolução profunda! Mas será que nos arriscariamos a tanto?

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Videos pedidos

Ao que parece, em Tavira as cadeiras andam pelo ar! Se calhar é por causa do aquecimento global e é preciso alertar o Al Gore e a sua trupe para este fenómenos. Ou então, os algarvios passaram-se de vez e venderam aquele pedaço de terra a uma produtora de séries de ficção científica. Será que mudaram o nome para Allgarve? Ah, não, afinal é só um festival de performance e os tipos* filmaram as cadeiras em estúdio e socorreram-se de uns efeitos especiais e tal e coisa. Ufa, já estou mais descansada! Até o D. ficou espantado quando uma das cadeiras passou a razar-lhe a cabeça...



*PROCU.ARTE e dois ilustres alunos Restart

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Um cheirinho a Amsterdam...

Não, não vou começar a contar tudo assim de chofre! Para aguçar a curiosidade, deixo-vos um video do Club 11, o espaço mais perto do céu onde já estive. Com um ambiente muito próprio, uma decoração que nos remonta ao submundo da noite e uma vista panorâmica sobre a cidade, é sem dúvida o espaço do momento. Mas não o será por muito mais tempo! É que o edifício onde se encontra será demolido em Julho para dar lugar a um novo complexo habitacional junto às docas (Oosterdokskade). Com o fim à espreita, o Eleven prepara 11 festas inesquecíveis nas suas últimas 11 noites de vida. Let the countdown beguin!